A televisão brasileira vive um momento de transformação acelerada com a chegada da TV 3.0 e a crescente incorporação de tecnologias baseadas em inteligência artificial. Esse foi o tema central do painel “Ecossistema Televisivo em Mutação: Tecnologias Emergentes e seus Reflexos na Produção e Educação”, realizado no SET Expo 2025. A sessão foi mediada por Fernando Moura, editor-chefe da Revista da SET, e contou com especialistas em educação, jornalismo e produção audiovisual.
Para o Prof. Dr. Francisco Machado Filho, professor assistente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a tecnologia oferece oportunidades sem precedentes, mas também traz desafios complexos sobre autoria e ética. “A inteligência artificial chega à TV com ferramentas que permitem controlar enquadramentos de vídeo e automatizar processos. Mas é essencial reconhecer a autoria e a intencionalidade nos trabalhos, para que o processo criativo não seja perdido”, explicou.
Eduardo Acquarone, pesquisador, jornalista e diretor criativo, destacou o impacto da IA no jornalismo. “Hoje podemos pesquisar em bibliotecas do mundo inteiro pela internet e criar artigos com o auxílio de ferramentas de IA. Mas é fundamental que haja curadoria e responsabilidade. Não basta pedir que a máquina escreva, o processo exige supervisão ética e editorial”, afirmou, ressaltando a importância de preservar a diversidade narrativa.
A questão da educação também entrou em pauta com Prof. Dr. Marcos Américo, professor na UNESP, que abordou a integração da inteligência artificial no ensino do audiovisual. “Estamos formando alunos para que compreendam o papel social da televisão, suas linguagens próprias e como interagir com o público sem confundir experiência televisiva com internet. A tecnologia é uma aliada, mas precisa ser usada com consciência”, disse.
Os palestrantes discutiram ainda a interatividade e a personalização do conteúdo, ressaltando que a TV aberta continua desempenhando um papel essencial. “A televisão tem características únicas. É ao vivo, pública e acessível a todos. A experiência do usuário deve ser preservada mesmo diante das novas ferramentas digitais”, afirmou Francisco Machado Filho.
O painel também levantou questões sobre a ética e a regulação do uso da IA, especialmente em conteúdos jornalísticos. “Em um cenário global, algumas informações chegam de maneiras criativas, como em jogos online, permitindo acesso a notícias sem censura. Mas precisamos pensar em como a tecnologia afeta o jornalismo, a sociedade e a responsabilidade do conteúdo entregue ao público”, afirmou Acquarone.
Para os especialistas, o futuro da TV brasileira dependerá da capacidade de integrar tecnologia, criatividade e educação de forma equilibrada. “É um momento de aprendizado, adaptação e reflexão. O desafio é usar essas ferramentas para potencializar a produção audiovisual, sem perder a essência da televisão e seu papel social”, concluiu Fernando Moura.