No tabuleiro do audiovisual, a TV tradicional e o streaming jogam com regras diferentes, mas disputam o mesmo prêmio: a atenção que paga a conta. Essa disputa foi o eixo do painel “Virando a Chave: Como Mídias Tradicionais e Digitais estão Rentabilizando no Streaming”, realizado nesta quinta-feira, 21 de agosto, no SET Expo 2025. O encontro foi mediado por Ricardo Minari, diretor de Parcerias da Abotts, e reuniu especialistas para discutir os rumos da monetização na era digital.
Yassue M. Inoki, presidente da Abotts, destacou o ritmo acelerado da inteligência artificial como fator transformador no setor. “Se há seis meses alguém dissesse que seria possível exibir uma propaganda individual para cada usuário, pareceria inviável. Hoje, já não é mais. Estamos entrando na era da hiperpersonalização um para um, e isso muda completamente a forma de rentabilizar o streaming”, afirmou.
Do ponto de vista da mídia tradicional, Rodrigo Hornhardt, diretor de Produção Audiovisual do Grupo Abril, defendeu a importância de adaptar a publicidade para os novos formatos. “O que funcionava para Globo ou SBT era simples: um vendedor negociava a campanha, ela entrava no horário e pronto. No streaming é diferente. É preciso entender o funcionamento das plataformas e educar o mercado. Enquanto não houver clareza sobre essas diferenças, a publicidade no streaming não vai avançar”, alertou, citando ainda o papel do Stimmy Academy, iniciativa da Abotts para formar profissionais e fomentar boas práticas.
Com longa experiência em projetos de grande audiência, Hornhardt lembrou que escala não é sinônimo de receita. “Uma audiência enorme pode significar prejuízo se for mal trabalhada. Muitas vezes, um produto menor, mas bem estruturado, dá mais retorno. O segredo está na segmentação, no uso de dados e na personalização. Inserções mal planejadas saturam a audiência e destroem o produto”, explicou.
Na visão do universo gamer, Guilherme Machado, Media & Partnerships Manager da Gamers Club, ressaltou a necessidade de equilíbrio entre monetização e experiência. “Nos games, a infraestrutura é cara e precisa se pagar. Mas se o excesso de propaganda atrapalha a imersão, o usuário abandona o jogo. A relação do jogador é profunda, ele não assiste apenas, ele faz parte da narrativa. É preciso pensar em formatos que convertam sem estragar essa vivência”, destacou.
Já Marcelo Guerra, diretor de Inovação da Abotts, provocou reflexões sobre o futuro próximo, especialmente em torno do uso da inteligência artificial. “A hiperpersonalização já é tecnicamente viável. Imagine pesquisar uma viagem para Cancún e, segundos depois, ver um comercial no streaming com você mesmo sentado na praia. A IA pode criar isso em tempo real. A discussão agora é sobre ética e monetização de dados, “até que ponto o usuário deve autorizar, e como ele pode ser remunerado por isso?”, questionou.
O painel deixou claro que a chave da rentabilidade no streaming passa pela combinação de tecnologia, modelos de negócio e conteúdo. Como resumiu Guerra, “não é apenas sobre vender anúncios, mas sobre criar experiências personalizadas, sustentáveis e justas para marcas, plataformas e usuários”.